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Amigo de Guerrero faz casa da mãe virar restaurante e promete 21 mil ceviches se Peru for à Copa 3k6h4r
Augusto Sanchez é o responsável pela alimentação da seleção peruana e dono de estabelecimento a poucos metros do estádio Matute, casa do Alianza Lima 1m371e
Publicado em: 06/06/2025 | GLOBOESPORTE.COM / BRUNO GIUFRIDA, FILIPE CURY E TATIANA BUENO z6m2h
Quando perdeu um gol feito aos 53 minutos do segundo tempo e deixou a vaga na fase de grupos da Conmebol Libertadores ser decidida nos pênaltis, sob a pressão da Bombonera, o experiente Cavani, atacante e camisa 10 do Boca Juniors, não fazia ideia do que aconteceria horas depois a 3,9 mil quilômetros dali, em Lima, no Peru.
Nas penalidades, o Alianza Lima, um dos mais populares times peruanos, liderado pelos experientes Guerrero e Barcos, eliminou e frustrou todas as expectativas do copeiro Boca Juniors. O feito foi tão inacreditável até para seus torcedores que um, em especial, fez uma loucura.
Em um restaurante cheio de cores, paixões e sabores, que já foi a casa da família Sánchez e fica a apenas 20 metros da casa do Alianza Lima, o chef Augusto decidiu: presentearia torcedores do seu time do coração com três mil ceviches, prato típico peruano, ideia que pode ser replicada - e aumentada - caso a seleção do Peru se classifique para a Copa do Mundo do ano que vem.
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Para retirar o "prêmio" pela vaga na Libertadores deste ano, bastava ir ao Mi Barrunto no dia seguinte à heroica classificação vestido de azul e branco. Pelas ruas de La Victoria, bairro simples da capital peruana, filas se formaram. Felizes, torcedores do Alianza Lima se aglomeraram em busca da promessa do conhecido chef de cozinha, que carrega a marca de 87 mil seguidores nas redes sociais e não esconde o lado "influencer".
Agora, Augusto fez uma nova promessa, mais ousada. Fanático pelo Alianza Lima e apaixonado pela seleção de seu país, da qual, inclusive, foi chef de cozinha durante a Copa do Mundo da Rússia, em 2018, e presta serviço em outras competições longas, como Copa América, ele sabe que a classificação do Peru para a Copa de 2026, nos Estados Unidos, no Canadá e no México, está distante - assim como estava distante a ida do seu time do coração à fase de grupos da Libertadores.
Com dez pontos, os peruanos estão em nono lugar na tabela de classificação das Eliminatórias. A Venezuela, em sétimo, posição que leva para a repescagem, tem 15. A duas rodadas do fim do torneio classificatório, ou seja, quatro jogos, o Peru enfrenta e precisa vencer a Colômbia nesta sexta-feira, às 17h30 (de Brasília), fora de casa.
Augusto, que até hoje cozinha e é o responsável por fornecer alguns pratos para a seleção de seu país, sabe que a missão de seus clientes mais importantes não é fácil. Por isso, o chef, que carrega a bandeira do Peru no dólmã que veste para cozinhar, decidiu repetir a estratégia: promete dar 21 mil ceviches em uma semana.
– Se a seleção peruana classifica à Copa, eu presenteio com três mil ceviches diários, por uma semana – garante Augusto.
As promessas, o fanatismo e a distância de apenas alguns os (é só atravessar uma rua) do restaurante de Augusto do Matute, o estádio do Alianza Lima, são só alguns dos exemplos de como a cozinha peruana caminha lado a lado com o futebol e a história do país.
O cardápio e as paredes do Mi Barrunto são prova disso. Entre opções de pisco, tradicional bebida alcoólica peruana, entradas apetitosas e peixes inteiros, Augusto deu a diversos pratos nomes de jogadores, escolhidos pelos mais diversos motivos. Mas todos têm um motivo. Nada é por acaso no local que reúne as histórias de uma família, de um país e de um time.
André Carrillo, por exemplo, tem seu prato no cardápio. O do jogador do Corinthians foi escolhido por sua mãe. Antes de deixar o Peru e ganhar o mundo, a promessa do Alianza Lima, ainda adolescente, ia ao restaurante de Augusto, como é comum entre jogadores da equipe vizinha do Mi Barrunto e da seleção peruana. Entre um treino e outro, um jogo e outro, o garoto sempre escolhia o mesmo.
– Esta Causa é do André Carrillo. André vem desde pequeno aqui comer, quando tinha 13, 14 anos. E desde pequeno comia Causa. Quando perguntei seu prato preferido para colocar no cardápio, quem pediu esse prato para nós foi sua mãe. Ela nos exigiu que colocássemos o nome do Carillo neste prato – conta Augusto.
O nome Causa também não é por acaso. O prato, à base de batata, carne branca, pimentas e outras especiarias, é chamado assim em referência a um momento histórico do país.
Augusto conta que o militar Dom José de San Martín comia justamente uma Causa quando proclamou a independência peruana do domínio espanhol. Em 28 de julho de 1821, em uma celebração na capital Lima, um país ganhou sua liberdade, enquanto um prato típico do Peru ou a ter um nome especial para seu povo.
– Ele disse: “Pela causa da independência, celebremos!'. E, aí, nasceu o nome “Causa' para o prato – conta Augusto.
A presença de heróis nacionais no cardápio do restaurante vizinho do Alianza Lima não é uma exclusividade de Dom José de San Martín. Nas quatro linhas, Paolo Guerrero carrega grande importância para a história peruana.
Foi decisivo na classificação para a Copa do Mundo da Rússia e é o artilheiro da seleção do país, com 40 gols em 125 jogos. Foi, também, importante no vice-campeonato da Copa América de 2019. Com estes números e essa representatividade histórica, Guerrero é como um herói nacional para os peruanos.
E, por sinal, também é um cliente assíduo do Mi Barrunto, principalmente depois do retorno a Lima para jogar no local que costuma chamar de casa.
Aos 41 anos, Guerrero é peça-chave no Alianza. Em 2025, dividindo as responsabilidades do ataque do time com o também experiente Hernán Barcos, tem 18 jogos e oito gols.
Não conseguiu levar a equipe ao mata-mata da Libertadores, mas a fase de grupos foi o suficiente para ser recebido nos braços de um de seus restaurantes favoritos.
No dia seguinte à classificação do Alianza Lima ao eliminar o Boca Juniors nos pênaltis, Guerrero foi almoçar no Mi Barrunto. Foi recebido por Augusto, pelos garçons e por muita festa. Era uma tremenda surpresa, para todos, o feito do time comandado pelo técnico Néstor Gorosito, a quem o chef de cozinha chama carinhosamente assim:
– Ele é um anjo. Um anjo de verdade, que veio do céu para salvar o Alianza Lima – fala Augusto, em tom sério, não de brincadeira. E se entrega aos risos.
Guerrero, inclusive, é outro prato no Mi Barrunto. Apesar de ter deixado o Alianza Lima ainda muito novo, aos 16 anos, o centroavante peruano nunca esqueceu suas origens e onde gostava de frequentar antes da fama.
A presença de Augusto nas viagens da seleção peruana, inclusive na Copa do Mundo da Rússia, colabora para a proximidade tão atual.
– Paolo também tem seu prato, uma espécie de risoto com uma massa, com filé de peixe e frutos do mar. Mas ele se foi muito pequeno, com 16 anos. Fez toda sua carreira fora e agora voltou para casa. Está feliz por estar no Peru e comer seus pratos típicos, que tanto gosta – explica Augusto.
Enquanto isso, a pouco mais de mil quilômetros de Lima, um outro conhecido jogador peruano não tem a mesma sorte de Guerrero. Não pode se deliciar com o prato que carrega seu nome no restaurante vizinho do Alianza Lima.
Christian Cueva, aos 33 anos, tem se destacado pelo Cienciano, de Cusco, que terminou a fase de grupos da Sul-Americana na liderança do Grupo H e empatou com o Atlético-MG em 1 a 1 na última quinta-feira. Agora, aguarda o adversário nas oitavas de final da competição.
Com agens por São Paulo e Santos no Brasil e outros vários clubes pelo mundo, inclusive o Alianza Lima, Cueva também tem um prato no Mi Barrunto. É um ceviche com peixe, choclo (uma espécie de milho peruano, cultivado na região dos Andes) e muita pimenta, como explica Augusto. É justamente esse que será distribuído em caso de classificação do Peru para a Copa do Mundo.
Para além de nomes de jogadores, camisas espalhadas pelas paredes e a proximidade com um estádio acolhedor, o cardápio montado por Augusto carrega a história peruana. E não apenas no Mi Barrunto.
A cozinha, para os peruanos, é história
– Creio que é porque há muitas culturas há muitos anos no Peru, desde quando chegaram os espanhóis, há 500 anos, mas também vieram os africanos, os árabes, os chineses, os japoneses... Então todos eles fizeram a cozinha ser pluriétnica. São muitos sabores, de todo o mundo, e o nosso sabor é de uma cozinha de alto nível – explica Augusto.
Para ele, também é história. Hoje repleto de garçons animados que cantam parabéns para clientes a cada dez minutos, o Mi Barrunto já foi a casa da mãe de Augusto. Certo dia, ela decidiu presenteá-lo com o espaço, que teve paredes derrubadas até virar um grande salão, onde o chef reúne toda a sua paixão pelo futebol e pela cozinha.
– Minha mãe é uma mulher que criou o sonho na gente. Ela nos entregou sua casa há 31 anos. Destruímos as paredes, pouco a pouco, e aí nasceu a cevicheria Mi Barrunto, que hoje tem um espaço gigante.
– O mais sagrado para nós é que os jogadores do Alianza comem no Mi Barrunto desde os anos 2000. Aqui se come leite de tigre, com peixe, cebola, choclo, que comiam em casa quando eram pequenos. Sentavam-se e comiam. Isso, para nós, é o maior de tudo. Farfan, Paolo Guerrero, os maiores jogadores que já aram pelo Alianza comeram aqui – completa o chef.
Com o sonho vivo de ir a mais uma Copa do Mundo e muita comida boa na bagagem, a seleção peruana, de Paolo Guerrero e André Carrillo, entra em campo nesta sexta-feira. Será que o impossível vai acontecer?