Força invisível: como a economia popular movimenta renda, resistência e inovação 5r4p4v

MS tem 161.913 microempreendedores individuais, o que representa 48,4% das empresas formalizadas 5g5w3z

Publicado em: 20/05/2025 | ALINE DOS SANTOS E MURILO MEDEIROS / CAMPO GRANDE NEWS 414341


'É só ter uma meta e trabalhar muito' diz Maycon, que abriu barbearia no Jardim Tijuca. (Foto: Marcos Maluf)

Maycon Oliveira da Silva, 33 anos, já foi trabalhador de carteira assinada, dono de espetinho, teve tabacaria e agora é proprietário da barbearia “É o Bronx', no Jardim Tijuca, em Campo Grande. Em toda a trajetória, foi movido pelo objetivo de dar uma vida melhor para a família. Hoje, colhe os frutos de todo o esforço: sustenta a casa com os lucros da barbearia.

RESUMO

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Em Mato Grosso do Sul, microempreendedores individuais (MEIs) representam quase metade das empresas formalizadas, impulsionando a economia local e gerando empregos. O estado conta com mais de 160 mil MEIs, cuja média de idade é de 40 anos, com predominância masculina, embora a participação feminina seja expressiva. Histórias como a de Maycon, barbeiro, Gabrielli, confeiteira, e Beatriz, artesã, ilustram a força do empreendedorismo na busca por independência financeira e realização profissional. Apesar dos benefícios da formalização como MEI, como o a crédito e simplificação de impostos, persistem desafios como a burocracia e a dificuldade em obter financiamento. O Sebrae oferece e aos microempreendedores com consultorias e capacitações em gestão. A economia popular, baseada na autogestão, surge como alternativa em meio a crises econômicas, demonstrando a criatividade e a resiliência dos brasileiros. Iniciativas como o Mercado Escola da UFMS, em Campo Grande, apoiam pequenos produtores com infraestrutura e formação, fomentando o desenvolvimento local e a economia criativa.

“Mudou completamente a minha vida. Hoje, 95% do sustento da minha casa vem da barbearia. Tudo está bem melhor. Tudo aquilo que eu queria se tornou possível. É só ter uma meta e trabalhar muito', diz Maycon.

A coragem de empreender veio quando percebeu que o trabalho CLT (carteira assinada) não comportaria seus sonhos.

Eu trabalhei três anos em uma concessionária e comecei a pensar em abrir minha própria empresa. Porque me comparava com os meus superiores. Gerentes que já estavam na empresa há 15 anos ganhavam R$ 6 mil, não tinha para onde crescer. Eu pensava: eu consigo alavancar minha carreira aqui? Não quis ficar estagnado', afirma o empreendedor.

O começo foi difícil, principalmente com as apostas erradas. “Comecei a arriscar, abri um espetinho sem nem saber assar carne. Me juntei com um amigo, ele assava e eu atendia. Não deu certo. Depois, abri uma tabacaria, mas nunca gostei de beber e quis sair desse público. Fiz um curso de barbeiro e abri aqui', relata Maycon.

Depois de acertar no investimento, mais desafio para quem trabalha por conta própria. Ele precisou se adequar à burocracia e estudar.

“E, para tudo isso, eu fiz cursos. Primeiro, me aperfeiçoei em cortes, depois na gestão de pessoas, na área de vendas, tentei diversificar o portfólio de atendimentos, não ficar só em corte e barba. Fui buscar cursos de marketing, de liderança. Alguns eu fiz no Senac e outros fiz particulares, investindo na minha formação. Quem tem um produto tem que investir no seu produto. Eu preciso investir em mim, me atualizar e entender do meu negócio'.

Ele destaca que ser MEI (Microempreendedor Individual) facilita ter o a taxas menores e financiamentos. “Mas não é tão fácil como parece, porque não pode ter nome sujo, tem que fazer alguns seguros no banco. No final deste ano, quero pegar um empréstimo mais alto. Quero crescer', diz o dono da barbearia.

Madrugar na cozinha e sonho com sabor de brigadeiro  

O dia começa cedo para Gabrielli Gasperin Martins, 33 anos. Às 5h da manhã, ela já está na cozinha colocando salgados para assar e garantindo a produção de bolos caseiros. De segunda a quinta, são 30. De sexta a sábado, o número sobe para 40.

Os bolos, que colorem e enchem de sabores a estufa da loja “Meu Caseirinho', no Bairro Maria Aparecida Pedrossian, em Campo Grande, viraram a fonte de renda da família.

Além de Gabrielli, que saiu do emprego de auxiliar istrativo para investir em um negócio próprio, o esposo também deixou a segurança da carteira assinada para reforçar a equipe. Ela conta que é MEI há um ano e viu um novo mercado se abrir: vendas para o setor corporativo. Além de o a aplicativo de delivery.

Ser MEI abre muitas portas para a gente. Consigo atender empresas porque tenho nota fiscal. No Natal e na Páscoa, foram muitos pedidos corporativos', diz Gabrielli.

A produção de bolos começou como uma renda extra, mas, quando formou uma cartela de clientes, ela decidiu investir no sonho.

“No começo, o mais difícil era não ter um salário certo. E o melhor dessa mudança foi conseguir ser mais presente na vida da minha filha, que vai fazer seis anos. Consigo conciliar melhor os meus horários com o dela'.

Para a empreendedora, o sucesso tem sabor doce. Os bolos mais vendidos são o de cenoura com cobertura de brigadeiro e o de laranja.

As flores no caminho de Beatriz

“Me encontrei nas biojoias. É muito gratificante pegar uma flor, desidratar e transformar em uma linda peça. Minhas criações são feitas com elementos naturais, como flores, folhas, sementes, sal, café. Tudo aquilo que a natureza nos oferece com generosidade', afirma Beatriz Corregaro, que deixou a profissão de fisioterapeuta para se tornar empreendedora.

As peças da Flor de Luz Biojoias também encapsulam lembranças, como fio de cabelo de bebê, dentinhos, cordão umbilical e cinzas de cremação. “Cada biojoia é carregada de significado e feita com profundo respeito à memória de quem a encomenda', diz Beatriz.

Em fevereiro do ano ado, ela decidiu formalizar a atividade com o apoio do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

“Durante os cursos que participei, tive meu primeiro contato com o MEI e compreendi a importância de profissionalizar meu trabalho. Assim, abri meu CNPJ, buscando não só a formalização, mas também o aprimoramento por meio da capacitação. Pois uma empresa que é formalizada e tem o respaldo do Sebrae é melhor vista no mercado'.

A força dos microempreendedores na economia 

Mato Grosso do Sul tem 161.913 MEIs (Microempreendedores Individuais) ativos, o que representa 48,4% das empresas formalizadas no Estado. O número total é de 334.575.

Na prática, isso significa que quase uma em cada duas empresas sul-mato-grossenses atua dentro desse regime. Conforme o Sebrae, evidência clara da relevância do MEI para a inclusão produtiva, geração de renda e estímulo à formalização de pequenos negócios.

A média de idade dos microempreendedores é de 40 anos. No recorte por gênero, os homens são maioria entre os MEIs, representando 54,7% dos registros, enquanto as mulheres correspondem a 44,8%, número ainda expressivo e que reforça o papel feminino no empreendedorismo estadual.

Formalização e o a crédito são desafios

Apesar de o regime de MEI oferecer vantagens como isenção de taxas para abertura e funcionamento, o facilitado ao CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) e simplificação de obrigações fiscais, muitos ainda desconhecem os detalhes do processo de formalização, o que pode levar à informalidade ou ao aproveitamento limitado dos benefícios disponíveis.  O microempreendedor pode contribuir para a aposentadoria e receber benefícios de seguridade.

Segundo o estudo “Perfil do MEI - Edição 2024', 56% dos microempreendedores formalizaram-se por necessidade de uma fonte de renda, enquanto 39% o fizeram por enxergar uma oportunidade de negócio. Após a formalização, 73% relataram aumento nas vendas, o que demonstra o impacto positivo da regularização.

Apesar disso, o o ao crédito permanece como uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos MEIs. As principais finalidades para solicitação de crédito são capital de giro, expansão do negócio, investimento em equipamentos ou tecnologia e cobertura de emergências.

Contudo, muitos esbarram em entraves como histórico de inadimplência, baixa capacidade de pagamento, ausência de garantias e documentação incompleta. Também há muitos MEIs que ainda utilizam apenas contas bancárias de pessoa física, o que dificulta a comprovação do faturamento e a análise de crédito pelas instituições financeiras.

Para mudar esse cenário, o Sebrae/MS oferece orientações por meio de consultorias especializadas, além de soluções como plano de negócios, ferramentas de gestão financeira, estudos de viabilidade e informações sobre as melhores linhas de crédito.

A economia que emerge da necessidade 

“A gente costuma brincar que a economia popular é aquela feita sem patrão. A economia que é baseada na autogestão das pessoas. Ela está dentro de um ecossistema capitalista. Mas o principal objetivo da economia popular é que, tanto individualmente ou coletivamente, as pessoas consigam gerar renda. E, a partir do momento em que a gente vai explorando essa economia popular, consegue ver outros recortes', afirma Joel Pereira Cirqueira.

Professor na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), ele é , mestre em Psicologia Social, doutorando em istração na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e consultor de gestão.

Um dos recortes da economia popular é a feira livre, setor que o pesquisador conhece desde a infância, quando ia ajudar os avós. “Eu me recordo que havia a ideia de que se comprasse o produto na feira, não era considerado tão bom. Agora, a gente vê esse movimento que tem sido empreendido por muitos jovens de fomentar essa economia popular com as feiras'.

Joel destaca os desafios de ser patrão e, ao mesmo tempo, o empregado. Ele exemplifica que a lógica do “eu faço meu horário' soa sedutora. Mas a realidade é que a pessoa precisa trabalhar por horas e horas para conseguir alcançar determinado ganho.

 “Se a gente não olhar com cuidado, cria relações muito fragilizadas. Não tem como uma pessoa viver de fazer feira uma vez por semana. Ela tem que fazer o seu corre para conseguir manter renda fixa', diz o professor.

A economia popular emerge da necessidade, diante da crise do modelo tradicional.

Com desemprego, inflação, historicamente a gente viveu momentos muito difíceis, as pessoas tiveram que ser criativas. Você precisa comer, então vai ser criativo. É uma economia emergente, porque emerge da necessidade. Enquanto a economia mais formal vem do contexto industrial, a economia popular vem das periferias', afirma Joel.

Saberes do campo chegam à universidade

No próximo mês, a UFMS vai abrir uma chamada pública diferente. O edital será para seleção de pequenos produtores rurais, cooperativas, quilombolas e indígenas. As atividades serão desenvolvidas no Mercado Escola, estrutura no campus da universidade em Campo Grande.

A ideia deriva da feirinha agroecológica, que já era realizada na instituição de ensino, por onde circulam 12 mil pessoas por dia.

“Mas foi percebida a necessidade de não ficar só na comercialização. As pessoas precisam se desenvolver. Com isso, veio o Mercado Escola, um espaço dedicado à agricultura familiar e economia criativa. Aqui a gente consegue fazer desenvolvimento de produto, estudo de mercado. Que a partir daqui elas possam caminhar sozinhas', afirma a coordenadora Aline Gomes da Silva.

O espaço tem doca para desembarque dos produtos, sala de aula, laboratórios e grande pátio que vai abrigar 34 estandes para comercialização de frutas, legumes, artesanatos, chipa, sopa paraguaia. Inicialmente, a venda será uma vez por semana.

Segundo Aline, os selecionados vão participar de formações ligadas a custo de produção, como colocar preço no produto, atendimento ao consumidor, análise de mercado. “A gente conta com todos os professores e técnicos da universidade, de diferentes áreas'.

O Mercado Escola é o primeiro no Brasil a dedicar espaço para agricultura familiar e economia criativa  dentro de uma universidade.

'Nós estamos desenvolvendo um modelo que esperamos que seja replicado em outros Estados e em outras universidades. Um espaço coletivo para comercialização e desenvolvimento de empreendimentos familiares'. destaca a coordenadora.

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