Seja bem-vindo, Ancelotti. E desculpe pela bagunça… 4z6r49

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Publicado em: 13/05/2025 | GLOBOESPORTE.COM / ALEXANDRE ALLIATTI 401d6h


Quando pela primeira vez o senhor se acomodar no sofá de sua nova casa para assistir a uma rodada do Campeonato Brasileiro, fatalmente acontecerá um lance com revisão do VAR. Este será um bom momento para ir até sua adega, escolher um rótulo com calma, pegar uma taça, dar o primeiro gole. Ao retornar para o sofá, fique tranquilo: o lance ainda estará sendo revisado pelo VAR – enquanto jogadores dos dois times cercam o árbitro.

Alguns minutos antes ou alguns minutos depois, um atleta precisará de substituição por lesão. E o goleiro do mesmo time repentinamente desabará no gramado, se contorcendo de dor. O senhor ficará preocupado. Mas ele logo estará recuperado – no exato instante em que o substituto do atleta lesionado entrar em campo, impedindo que a equipe fique com um a menos.

O senhor haverá de se perguntar por que alguns dos principais jogadores dos dois times não estão jogando. E a equipe de transmissão, como se lesse seu pensamento, informará que aquele é o quinto jogo das duas equipes em um intervalo de duas semanas. O repórter de campo, atento, detalhará quem está fora por lesão e quem foi poupado por desgaste.

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Também chamará sua atenção que metade do estádio esteja vazio, mesmo sendo um jogo entre clubes grandes. Será fim do mês, haverá uma faixa na organizada questionando o preço dos ingressos, e o senhor lembrará que dali a três dias os dois times jogam em casa pela Libertadores.

O senhor tentará focar no jogo. Ainda estará 0 a 0. O time da casa terá a posse de bola, cercará a área adversária, tentará triangulações, mas o oponente, mesmo com tanta tradição, claramente estará jogando pelo empate, e a partida ficará travada. Um ponta habilidoso, porém, pegará a bola, ará por dois marcadores, chutará no canto e sairá comemorando o gol com um sinal de silêncio para as câmeras.

Intrigado, o senhor mandará uma mensagem a um colega de CBF pedindo mais informações sobre aquele jogador. E ficará surpreso ao receber a notícia de que ele é investigado por tomar cartões amarelos para favorecer apostadores. O senhor balançará a cabeça.

O jogo ficará melhor. O time visitante, após sofrer o gol, recuperará a memória de como se ataca. Haverá mais espaço. Chances de gol se sucederão de lado a lado. Em uma delas, a bola baterá no braço de um zagueiro, e o árbitro marcará pênalti para o time da casa – mesmo não tendo marcado em um lance igual na rodada anterior.

O técnico do time visitante, revoltado, irá esbravejar na beira do campo. Acabará expulso. O auxiliar do time mandante (o treinador estará suspenso por três amarelos) aplaudirá o juiz pela decisão acertadíssima. Após seis minutos de revisão no VAR, o camisa 9 acertará a cobrança, fazendo seu quarto gol no campeonato – o quarto de pênalti.

Quando o jogo terminar, o senhor pensará que deu azar – não foi um bom jogo. Tudo bem, outros tantos virão: alguns melhores, alguns piores. Com o tempo, o senhor vai se acostumar. E também poderá conhecer aquilo que temos de melhor: a paixão por esse jogo, o tanto que ele nos traduz, a beleza de nossas torcidas, a capacidade de gerar jogadores talentosos, o equilíbrio e a rivalidade entre tantos clubes grandes. Talvez o senhor, com sua experiência, fique tentado a nos ajudar.

De qualquer forma, seja bem-vindo, Ancelotti: a casa é sua. E desculpe pela bagunça…



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